Aconteceu na terça-feira, dia 2, uma reunião do SINTUFEJUF, APES e DCE, entidades representativas dos trabalhadores técnico-administrativos, professores e estudantes da UFJF, respectivamente, com a reitoria da universidade para debater a viabilidade da realização do Programa de Ingresso Seletivo Misto (Pism) 2021 nas atuais condições do exame. De acordo com o edital, as provas dos módulos II e III estavam programadas para acontecer nos dias 27 e 28 de fevereiro, já o módulo I, nos dias 13 e 14 de março. As entidades já haviam solicitado adiamento das provas. Segundo a reitoria, o PISM acontecerá de forma escalonada, ao final de fevereiro, final de março e final de abril.
O Coordenador Geral do SINTUFEJUF, Flávio Sereno, comenta que a notícia de que o módulo II do Pism foi adiado é positiva, porém demonstrou sua preocupação com a realização do PISM, mesmo na forma escalonada. “Quando foi decidido que as provas não seriam em novembro do ano passado, mas agora em fevereiro, o cenário da pandemia era muito ruim, porém os números atuais não são melhores”, explica. “Pelo contrário, embora o início da vacinação aponte para um importante horizonte de esperança, os próprios grupos de pesquisa da UFJF apontam, em suas notas técnicas, que a situação ainda é crítica”. Atualmente, Juiz de Fora encontra-se na onda vermelha do novo programa “Juiz de Fora pela Vida”, que foi colocado em atividade na semana passada e regulamenta as atividades econômicas e sociais na cidade. A Câmara Municipal Juiz de Fora (CMJF) também pediu o adiamento das provas junto à solicitação das entidades realizada no mês de janeiro, com adesão da maioria dos vereadores da cidade no documento apresentado por André Luiz (Republicanos) e encaminhado à UFJF.
Entidades denunciam falta de abertura para diálogo
De acordo com a Diretora de Cultura do DCE, Lara Polisseni, não houve real oportunidade de diálogo e construção coletiva das possibilidades de realização do Pism na reunião com a reitoria. “Na reunião, eles pediram para as entidades falarem as ideias que tinham sobre o Pism, e achamos que teríamos alguma abertura para colocar nossas demandas. Falamos sobre como o exame poderia trazer um risco enorme para as pessoas que irão fazer o Pism, para as que vão trabalhar e para as próprias cidades”, defendeu. Lara lembra que o risco não é só para Juiz de Fora e que “Governador Valadares e as outras cidades em que o Pism será aplicado na região também podem sofrer uma explosão de casos de Covid-19”. Além disso, a estudante reforça que acredita nos protocolos de segurança, mas que esses “não são 100% eficazes. Mesmo com distanciamento, a prova acontece em local fechado e a presença de várias pessoas causa aglomeração”.
Após as falas de cada entidade, a reitoria anunciou as medidas que iriam tomar em relação às datas dos exames. As informações passadas pela reitoria foram que o Pism I tinha 14.192 inscritos, seguidos de 11.829 inscritos no Pism II e 8.015 no módulo III do programa, totalizando mais de 34 mil estudantes inscritos, número superior ao do ENEM. A seguir, anunciaram que iriam manter as provas do módulo III, em fevereiro, e os demais módulos iriam ocorrer de forma escalonada ao final de março e abril. O tesoureiro da APES, Augusto Cerqueira, também pontuou a falta de diálogo da reitoria para com as entidades. “A reitoria disse entender que existem protocolos de segurança que garantem a realização da prova e que a realização do Pism é uma decisão administrativa, que não seria levada a nenhum colegiado da instituição”, relata. “A partir dessa fala a gente entendeu que não havia mais espaço para debate de algo diferente do que a administração já havia colocado e, portanto, que a reunião estava encerrada”.
Decisão da reitoria reforça desigualdade
Flávio Sereno destaca que, ao não manter a linha de enfrentamento à pandemia que a Universidade tem adotado desde o início, a instituição vai na contramão das ações desenvolvidas até aqui, e poderá estar contribuindo com a piora do quadro atual. “Sabemos o quanto a questão é polêmica e difícil, mas não consideramos viável a realização do exame nas condições atuais”, defende. “Os protocolos de segurança não são suficientes já que há a questão do transporte público necessário a muitos que vão participar como candidatos ou fiscais. Vejamos o que ocorreu no vestibular da Fuvest onde a fundação teve que monitorar 300 pessoas após o exame. Todas com sintomas suspeitos”. O coordenador também relembra de outro ponto importante que aprofunda a desigualdade de condições de quem está disputando vaga na UFJF. “Essa desigualdade é pré-existente e se aprofundou na pandemia: a estrutura objetiva e as condições de vida das pessoas são determinantes para a preparação dos candidatos”.
A representante do DCE concorda. “Na rede privada houve maior adesão ao conteúdo on-line”, explica Lara. “Por muitas vezes nas escolas públicas, além da dificuldade de mandar os materiais e realizar as aulas, os alunos têm dificuldade de receber esse material, muitas vezes eles não possuem acesso a computador, internet e nem mesmo celular. Muitos alunos não têm uma alimentação adequada, nem estrutura em casa. Esses pontos influenciam no processo de desigualdade”.
Para Augusto Cerqueira, a Universidade está perdendo a oportunidade de pensar em novas possibilidades de solução dos desafios impostos pela pandemia. “Nesse contexto e com essa crise do capital, a sociedade está perdendo a oportunidade de pensar soluções que valorizassem a condição humana, a inclusão e a diversidade”, lamenta. “A universidade podia ter feito diferente, pensar mecanismos de acesso diferentes, mas optou por manter o mesmo processo que o Governo Federal realizou com manutenção do Enem e que teve como resultado para além da questão sanitária, a enorme abstenção, superior a 50%. Da mesma forma que a UFJF construiu uma forma de ensino alternativa, por que não poderia construir um acesso alternativo?”, questionou.
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