A adoção é um ato de carinho que tem tornado possível que crianças encontrem um lar seguro e famílias se sintam mais completas. Porém, essa prática ainda requer muitos desafios. Apesar de termos atualmente mais de 4,9 mil crianças esperando por um lar, o processo costuma ser bastante demorado e complexo.
Em homenagem ao mês das mães, o SINTUFEJUF conversou com mulheres que passaram pelo mecanismo de adoção. A coordenadora de atividades culturais do SINTUFEJUF, Elaine Damasceno, conta que a decisão de ser mãe veio há oito anos, junto com a vontade de construir sua família como mãe solo. “Eu fiz todo o processo que eles pediam, desde a documentação até o acompanhamento psicológico com assistente social e isso demorou bastante tempo. A justificativa que me davam era de que a falta de pessoal técnico era a causa do atraso nos processos de adoção”, disse Elaine.
Para algumas famílias a adoção tardia, quando se adota uma criança que já possui um desenvolvimento parcial em relação a sua autonomia, pode ser uma forma mais ágil. De acordo com Elaine, o processo só conseguiu ser mais rápido quando ela redefiniu o perfil de crianças que ela procurava para adoção. “Na época que eu fui conhecer minha filha ela tinha oito anos de idade. Antes disso eu tive que mudar um pouco o perfil da criança que eu queria, da idade, a principio eu queria uma criança de quatro a seis anos, mas aí eu fui amadurecendo, procurando vídeos, ouvindo histórias de pessoas que já adotaram, pesquisando sobre adoção tardia, depois optei para de 4 a 8 anos e, assim, fui amadurecendo com relação à adoção. Lembro que por fim, a última vez que mudei meu perfil, foi de quatro a doze anos, que foi quando apareceu minha filha de oito anos”, relata Elaine.
Elaine descreve o momento em que recebeu o telefonema como algo muito emocionante. “Meu coração disparava, suei muito, fiquei muito ansiosa. Isso foi em um dia e no outro eu já estava conhecendo ela por vídeo chamada e assim, foi muito emocionante, muito mesmo. Ficamos nos falando por vídeo chamada por um tempo, até que tive a oportunidade de ir em um abrigo conhecer ela pessoalmente. A partir daí não a larguei mais. Eu ia duas vezes por semana no abrigo, e a relação foi se firmando tanto que toda vez que eu saía de lá parecia que eu estava deixando uma parte minha para trás. E de alguma forma eu estava deixando, porque ela já era a minha filha”, conta Elaine.
Já para a coordenadora de organização política e sindical do SINTUFEJUF, Natália Paganini, o desejo de ser mãe sempre esteve presente e a adoção sempre foi considerada como a primeira via. “Algumas pessoas da minha família chegaram por esse caminho, então o processo já era muito internalizado por todos. Enfrentei toda a burocracia, importante e necessária, já que o Estado está delegando a vida de uma criança a uma pessoa, mas também tive que superar algumas barreiras à época, sobretudo ligadas à minha sexualidade e estado civil. Hoje a sociedade está diferente e casos de preconceito são menos comuns”, contou Natália.
Para Natália a adaptação como mãe não foi diferente da de outras mulheres. “Foi semelhante ao de todas as mães, independente de como essa maternidade é realizada. Na adoção, há outros fatores existentes, como as histórias de vida pregressas, que devem ser acolhidas e respeitadas, mas que não torna nem mais fácil nem mais difícil o exercício da maternidade, apenas diferente. Com o Eric, meu primeiro filho, a história foi marcada por muito amor, mas também por mais dificuldades. Quando eu obtive sua guarda, ele se encontrava hospitalizado e, infelizmente, veio a falecer. Foram 3 meses muito intensos, mas inesquecíveis. Com a Júlia foi bem tranquilo, ela foi uma bebê calma e feliz e em muito pouco tempo se adaptou à nova rotina. Hoje ela tem 8 anos e é uma menina muito linda, inteligente e amada”, declarou Natália.
Tanto Elaine quanto a Natália aconselham e incentivam as famílias que desejam realizar a adoção a persistirem no processo. “Construir minha família pela via da adoção foi a melhor decisão de minha vida e o encontro com os meus filhos, uma felicidade sem tamanho. Recomendo persistência e paciência a todas as famílias que desejam adotar pois, apesar dos desafios, ser mãe é uma alegria”, conclui Natália.
Para realizar uma adoção no Brasil, é preciso que o interessado ou a interessada, maior de 18 anos e independente do estado civil, procure a Vara de Infância de sua região para dar entrada na lista de documentação necessária e passar pelos processos de análise psicológica e socioeconômica.
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