Apaixonado por skate e praticante do esporte desde os 10 anos de idade, o técnico-administrativo em educação da UFJF e sócio fundador da Associação Juizforana de Skate, Brunner Venâncio Lopes comemora o desempenho do Brasil nas Olimpíadas, com as medalhas de prata no street masculino e feminino, da mais jovem medalhista Rayssa Leal e de Kelvin Hoefler. Brunner destaca que o país já é potência no skate há muito tempo, com muitas premiações, e tem expectativas de novas conquistas na modalidade park.
Apesar das altas expectativas de pódios múltiplos no skate, o ex-técnico-administrativo e atualmente professor de educação física do Instituto Federal do Rio Grande do Sul, Luiz Pustiglione, acredita que o desempenho do Brasil até o momento foi bom. “Digo até aqui porque ainda tem o “park”, onde temos tanta chance de medalha ou mais que no “street””, afirma. Para ele mais que as medalhas, a conquista para quem andava e anda de skate é o reconhecimento de que skatista não é o “errado”, o vagabundo, o que deveria ser xingado ou punido por andar de skate. “As medalhas são importantes, em especial para as carreiras dos medalhistas e para uma maior visibilidade comercial deles e do skate, mas acho a questão simbólica mais importante para quem assistiu e anda(va) de skate” afirma.
Conforme Brunner, o “street” é a modalidade que simula os obstáculos de rua, como rampas, escadarias, corrimões, meios-fios, bancos entre outros. A competição é individual e o esportista utiliza os elementos do espaço para demonstrar suas habilidades. Já o “park” acontece em espaços amplos e sem obstáculos, que lembram uma piscina vazia. Nessa modalidade o Brasil também está bem representado, com boas chances de medalha. “A gente já vinha acompanhando outras competições e classificatórias, e o Brasil, tanto pelas as meninas quanto pelos meninos, já havia uma expectativa de que traria alguma medalha no skate”, afirma.
Das ruas para os jogos olímpicos. Esta é a primeira vez que o esporte é inserido nas competições. De acordo com Brunner, várias gerações tentaram inserir o skate nas olimpíadas mas acabavam esbarrando em questões burocráticas. Segundo ele, desta vez só foi possível porque a modalidade atendeu uma série de critérios necessários estabelecidos pelo Comitê Olímpico Internacional, entre eles, o número de participantes e retrospecto em competições.
A inserção do esporte nos jogos olímpicos divide opiniões entre os praticantes. Entretanto, para Brunner, fazer parte de um dos maiores eventos esportivos mundiais traz uma vasta possibilidade para o skate no futuro, como atrair políticas públicas, e mais pessoas interessadas no esporte. “De forma geral isso representa um momento que o mundo inteiro está vendo skate nas olimpíadas, e como prática desportiva saudável”, explica. Brunner acredita que a olimpíada vai gerar impacto a curto prazo para o praticante. “Para ter oportunidade é preciso ter estrutura na cidade, não tem pistas adequadas nos bairros, quando tem, estão deterioradas ou foram construídas de maneira errada. Não tem política de infraestrutura eficiente em Juiz de Fora”, lamenta. Para ele, a partir das olimpíadas o poder público terá maior preocupação em traçar políticas voltadas para o skate, como escolinhas, por exemplo.
Para Luiz, o desempenho do Brasil nas olimpíadas contribuirá para mudar a percepção sobre o esporte. “Servirá sim para muitas mães e pais e outros responsáveis pensem duas vezes antes de recriminar o skatista e criminalizar o skate, mas ainda vamos precisar de um tempo para saber se alguns estigmas e pré-conceitos estão (ou estarão) superados de vez” acredita.
Brunner participou da fundação da Associação Juizforana de Skate, em 1999. Ele conta que na época o skate era mais marginalizado, não havia espaços para prática, e os jovens improvisavam nas ruas. Com isso, era comum a polícia apreender os skates e equipamentos, com a justificativa de que deveriam procurar um espaço adequado. Desta forma, com o objetivo de batalhar pelo entendimento da sociedade de que o skate é uma prática urbana, esportiva e de lazer, foi fundada a associação.
Mas para ele a percepção sobre o esporte tem mudado ao longo dos anos, e a sociedade está tendo uma aceitação maior, vendo o skate como meio de transporte não poluente, como prática saudável de lazer. Em 2013, em diálogo com a associação, a Universidade Federal de Juiz de Fora inaugurou uma pista de 350 metros quadrados, na Praça Cívica. O espaço é aberto à comunidade. “No brasil a gente vai ter uma nova geração de crianças e adolescente interessadas em praticar o skate” afirma.
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