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SINTUFEJUF participa do 14º FOPPIR e destaca importância do cuidado em saúde mental da população negra

20/10/2025

A cidade de Barbacena recebeu, entre os dias 16 e 19 de outubro, o 14º Fórum de Promoção pela Igualdade Racial (FOPPIR), evento promovido pelo Fórum Mineiro de Entidades Negras (FOMENE) com apoio de diversas organizações da sociedade civil. O encontro reuniu representantes de movimentos populares, acadêmicos e lideranças comunitárias sob o tema “Tecendo Cuidados em Saúde Mental da População Negra a Partir das Raízes Ancestrais” e o lema “Da Existência à Resistência: Por uma Saúde Mental Antirracista e Coletiva”.

O SINTUFEJUF, através do GT Antirracismo, marcou presença no fórum por meio dos coordenadores de Aposentados e Pensionistas, Rogério Silva e Nilza Lino, que integram também o FOMENE. Para Rogério, a participação no evento representa a continuidade de uma construção coletiva. “Durante todo o ano de 2025 nós participamos das reuniões preparatórias em vários municípios, ajudando a construir esse fórum. Foi uma atividade muito importante, que fortalece a política social antirracista da qual o SINTUFEJUF também faz parte, com o GT Antirracismo”, destacou.

Barbacena, memória e resistência

A escolha de Barbacena como sede do FOPPIR teve significado especial. Foi na cidade que ocorreu o primeiro fórum, há 20 anos, e também onde funcionou o antigo Hospital Colônia, instituição marcada por graves violações de direitos humanos. “A gente escolheu Barbacena porque é o berço do FOPPIR, mas também para lembrar a história dolorosa da população negra internada como se fosse louca. Muitas pessoas morreram ali sem estar doentes, apenas com ansiedade ou sofrimento psíquico. É um lugar que simboliza a necessidade de discutir a saúde mental da população negra”, explicou Rogério.

Nilza, que participa do FOPPIR há mais de 17 anos, relatou a dimensão afetiva e política do encontro. “Eu participo, já tenho mais de 17 anos, fui convidada pelo Rogério e lá eu estou até hoje. Quem participa pela primeira vez, não deixa de participar quando vem o FOPPIR. A gente discute sobre racismo, sobre cotas, e a gente se sente bem.”
Ela descreveu também o impacto emocional da visita ao antigo manicômio em Barbacena.  “É muito triste. Eu cheguei a visitar lá. É uma coisa que a gente fala: ‘é passado?’ Não, não é passado. Isso aí toca muito na gente… tivemos família que foi pra lá. Isso toca muito.”

Racismo estrutural e saúde mental

Durante os painéis, o racismo estrutural foi discutido como fator determinante para o sofrimento psicológico da população negra. Rogério destacou exemplos trazidos pelas mesas de debate. “Muitas vezes, nas unidades de saúde, a ansiedade ou o cansaço de uma pessoa negra é tratado como loucura. Encaminham direto ao psiquiatra e enchem de remédio, sem ouvir, sem entender a dor. Isso também é racismo estrutural, porque desumaniza o cuidado”, afirmou.
Ele citou ainda o caso de crianças negras que enfrentam dificuldades escolares e são indevidamente encaminhadas a psiquiatras, sem que se investigue a origem social ou emocional do problema. “É preciso escutar antes de medicar”, reforçou.

Nilza também ressaltou a preocupação com a invisibilidade de crianças negras nos serviços de saúde e nas escolas. “As mesas falavam muito sobre a doença da população negra, sobre o manicômio, e sobre as crianças nas escolas que sofrem muito racismo.”

Conexão com a universidade e o movimento sindical

O coordenador ressaltou que as discussões do FOPPIR se conectam diretamente com a realidade dos técnico-administrativos em educação, dentro e fora da universidade. “O que debatemos lá é o que o nosso GT Antirracismo também defende: um tratamento digno, o enfrentamento do racismo e o acolhimento das pessoas que sofrem com isso. O sindicato tem um papel fundamental em ouvir, encaminhar e acompanhar essas situações, porque o assédio também é uma forma de racismo disfarçado”, observou.

Nilza reforçou a importância do acolhimento e do diálogo que o evento promove. “A gente é muito bem acolhido lá. Quando a gente está discutindo isso, a gente sabe que alguma coisa a gente vai conseguir, outras a gente não. Mas foi uma reunião muito boa, muito proveitosa.”

Ancestralidade e resistência

A relação entre ancestralidade e resistência também foi destacada pelos coordenadores como eixo central do fórum. “A ancestralidade deixou pra gente o conhecimento e as experiências dos que vieram antes. A resistência é continuar essa luta, adaptando-a aos tempos atuais, porque o racismo muda de forma. Por isso, precisamos estar atentos — inclusive ao que a mídia mostra e naturaliza”, afirmou Rogério.

Encaminhamentos e próximos passos

Entre os encaminhamentos do evento, foram discutidas ações para fortalecer o combate ao racismo nas escolas, a preservação da memória da população negra internada em Barbacena e a ampliação da participação da pessoa idosa nas pautas antirracistas. Também foi deliberado que as cidades de Governador Valadares, Carangola e Mariana se candidataram para sediar o próximo FOPPIR, cuja sede será definida após avaliação final do FOMENE.

Nilza destacou que “os encaminhamentos serão publicados em breve, mas já ficou claro que a luta contra o racismo nas escolas e a valorização da história da população negra continuam como prioridades”.

Cuidado, unidade e compromisso

Encerrando, Rogério reforçou a importância da categoria técnica-administrativa se engajar na luta antirracista. “A gente precisa se movimentar mais, discutir mais. Não é só luta de classe, é também luta pela comunidade. O sindicato tem papel fundamental em fortalecer a luta antirracista no município e na universidade”, concluiu.

Nilza deixou uma convocação ao engajamento coletivo. “Participem, se informem, venham aos espaços de debate. A gente precisa estar unido para enfrentar essas questões que adoecem o nosso povo.”