SINTUFEJUF e a APES entrevistam Leiliane Germano jornalista, membro do Fórum de Coletivos Feministas 8M JF

20/11/2021

Como última matéria pertencente à série de entrevistas da Campanha que marca a Semana da Consciência Negra, o SINTUFEJUF e a APES ouviram Leiliane Germano jornalista, membro do Fórum de Coletivos Feministas 8M JF, Setorial de Mulheres do PSOL, Setorial de Igualdade Racial do PSOL Juiz de Fora e pesquisadora e palestrante, atuando com os temas “combate à culturado estupro”, “combate à violência contra mulher” e “antirracismo”. Durante a entrevista, Leiliane aborda a violência sofrida pela mulher negra no Brasil atual e no Brasil escravista.

Qual é a situação das mulheres negras no Brasil hoje? 

Leiliane: As mulheres negras no Brasil ainda sentem o reflexo da escravidão. 

O  15º Anuário Brasileiro de Segurança Pública apontou que duas a cada três mulheres vítimas de feminicídio em 2020 são negras. Nós mulheres negras somos também a maioria das vítimas de violência doméstica e estupro. Hoje ainda ocupamos a maioria dos índices de vítimas de violência, os serviços de cuidado, a maioria das casas que estão em situação de fome e as filas do desemprego. Avançamos pouco quando o assunto é combate ao racismo estrutural e reparação histórica. Com isso, as mulheres negras ainda sentem na pele o impacto da falsa democracia racial existente no Brasil. 

Quais foram as violências históricas sofridas e como elas refletem na nossa realidade atual? 

Leiliane: Historicamente o corpo da mulher negra é tratado como objeto, seja ele objeto de abuso sexual ou objeto de servidão. Sentimos ainda os impactos da exploração sexual e do trabalho que nossas ancestrais viveram. Com isso, temos uma média salarial muito inferior à de homens e mulheres brancas. Estamos em maioria nos serviços de cuidado, reflexos de serviços da casa grande. E ainda sofremos a violência causada pela histórica objetificação do corpo negro. O mito da mulata ou do corpo da mulher brasileira, reforça a abertura para o assédio, estupro e violações. 

O que tem sido feito para melhorar a vida das mulheres pretas? 

Leiliane: Estamos em uma constante luta no decorrer dos anos para que cada vez mais as mulheres negras ocupem espaços simbólicos e decisivos, como o espaço político por exemplo. Só assim poderemos realmente avançar em questões de políticas públicas e reparação histórica. Enquanto ainda somos minorias nesses cenários, seguimos firmes nas ruas compondo os movimentos sociais e lutando pela pauta do antirracismo e do combate ao machismo. Outro fator importante é trazer para o debate da educação o combate ao racismo. Temos uma lei federal que exige isso. A lei 10.639/03 já tem mais de 17 anos de vigência e ainda hoje não temos plena aplicação nas escolas. Segundo a lei, torna-se obrigatório o ensino da História e Cultura Afro-brasileiras nas escolas. Colocar essa lei em prática seria um grande avanço, já que é através da educação que conseguimos mudar o imaginário e comportamento social. Temos a chance de criar uma geração que já desde cedo entende o quanto o racismo é prejudicial e violento. 

Qual a importância de falar sobre o racismo e a violência da mulher negra?

Leiliane: A vida da mulher negra é transpassada por diferentes violências: estatal, obstétrica, doméstica, estupro, desemprego, desamparo na saúde pública, racismo, entre outras. Por isso, é tão importante reforçar que a luta contra o machismo também precisa ser uma luta antirracista. As mulheres negras estão morrendo por vários motivos e desamparos e até quando a gente vai tratar isso como normal? Até quando vamos viver no mito coletivo de que  não existe racismo e que ele não é base para inúmeras violências e desigualdades sociais? Precisamos reforçar esse debate todos os dias nas casas, escolas, igrejas, espaços políticos e nas ruas. Só assim iremos avançar enquanto país.

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