O SINTUFEJUF, juntamente com outras entidades, compôs nesta sexta-feira, 5, no Restaurante Universitário (RU) da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) um ato de repúdio em decorrência do crime de racismo praticado ontem, na universidade. Na noite desta quinta-feira, um estudante branco recusou receber os alimentos das mãos de uma funcionária alegando que: “não pegaria alimento da mão de uma pessoa negra”.
Após ouvir isso, a trabalhadora contou o ocorrido a sua supervisora, que solicitou uma explicação por parte do aluno. A Polícia Militar (PM) foi acionada posteriormente.
De acordo com o Artigo 2º da lei nº 7.716, que versa sobre os crimes resultantes de preconceito de raça ou de cor, “injuriar alguém, ofendendo-lhe a dignidade ou o decoro, em razão de raça, cor, etnia ou procedência nacional” pode levar a pena de “reclusão, de 2 (dois) a 5 (cinco) anos, e multa”.
De acordo com o registro policial, o autor negou a acusação e disse estar sendo vítima de calúnia. Segundo apuração do G1 Zona da Mata, aos militares o estudante alegou que estava na fila de sobremesas e, como a funcionária estava distraída, ele mesmo pegou o doce. Ele explicou ainda que: “jamais cometeria um crime de racismo, pois a mãe dele é negra”.
A prisão em flagrante não foi decretada no momento, pois, conforme a PM, não houve testemunhas do crime.
Entretanto, estudantes e funcionários da UFJF alegaram ter presenciado o crime de racismo no RU e, ao contrário do depoimento do estudante ao G1, ela não estava distraída, sendo isso uma calúnia contra a funcionária. Em vídeo publicado nas redes sociais e em diferentes veículos de mídia, é possível ver a PM escoltando o autor das ofensas até o carro. Após depoimento o estudante foi liberado.
Ato no RU
Durante o ato, a coordenadora geral do SINTUFEJUF, Maria Angela Costa, defendeu o acolhimento a funcionária e incentivou todos que testemunharam o ocorrido a “levantarem suas vozes” e denunciarem junto à PM e a ouvidoria da UFJF. “Infelizmente o racismo, o machismo, a homofobia, além de diversas outras mazelas sociais, são problemas estruturais de nossa sociedade. Precisamos brigar muito, mas muito mesmo, para conseguir transformar a sociedade e acabar com isso”.
A coordenadora ainda acrescenta que: “é um absurdo estar dentro de uma universidade e atos como esse se repetirem de uma maneira tão cruel e acontecerem quase que cotidianamente. Além disso, outros tipos de assédio, como o moral e o sexual, também são constantes. Devemos continuar protestando e buscando instituições que visem mudanças estruturais para que violências como desta quinta-feira parem de acontecer”.
Também participou do ato a coordenadora, Luana Lombardi, que destaca que não basta não ser racista, é preciso também ser anti racista. “Nós, pessoas brancas, temos que nos responsabilizar por cada caso de racismo que ocorre dentro da universidade, ou dentro da sociedade. O racismo não é responsabilidade das pessoas negras. Elas sofrem o racismo. Temos de lutar todos os dias, em qualquer ambiente, para que esse crime não ocorra mais”.
UFJF divulga nota
A Universidade Federal de Juiz de Fora divulgou uma nota nesta sexta-feira repudiando o ato racista da última quinta-feira. Em suas redes sociais, a instituição foi fortemente criticada por uma suposta omissão no caso.
Assim como estão sendo criadas na Comissão para Elaboração da Política Institucional de Enfrentamento ao Assédio mecanismos para combater violências na UFJF, é necessário um posicionamento institucional forte no combate ao racismo.
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