Na manhã do dia 18 de novembro, o Sindicato dos Trabalhadores Técnico-Administrativos em Educação das Instituições Federais de Ensino de Juiz de Fora (SINTUFEJUF), em parceria com a Coordenação de Saúde, Segurança e Bem-Estar (COSSBE/SIASS), realizou uma roda de conversa com o tema “Racismo estrutural e impactos na saúde da população negra: desafios e perspectivas na UFJF”. O evento aconteceu na sede do sindicato e reuniu especialistas, servidores técnico-administrativos em educação, demais membros da comunidade acadêmica e público em geral para discutir questões relacionadas ao racismo e seus reflexos na saúde da população negra.
Durante a roda de conversa, os palestrantes abordaram diferentes aspectos do tema. Danielle Teles, diretora de Ações Afirmativas (Diaaf) da UFJF, destacou como o racismo estrutural está presente nas relações sociais no Brasil, enfatizando que ele atua como elemento que organiza e perpetua desigualdades em diversas esferas. Ela enfatizou a relevância da data de 20 de novembro como uma conquista do movimento negro e uma oportunidade para refletir sobre a resistência de figuras históricas como Dandaras, Marielles e tantas outras mulheres negras. Danielle abordou o racismo estrutural como um fenômeno que atravessa todas as relações sociais e econômicas no Brasil, destacando sua naturalização em diferentes espaços e a perpetuação das desigualdades, especialmente contra mulheres negras. Teles enfatizou que o racismo não é apenas responsabilidade das pessoas negras e pediu às pessoas brancas que reconheçam seus privilégios e contribuam para uma sociedade antirracista. Também discutiu como o racismo afeta a saúde, levando ao envelhecimento precoce devido ao estresse constante enfrentado por pessoas negras em suas jornadas cotidianas. Por fim, compartilhou experiências pessoais na universidade, demonstrando como as estruturas institucionais reproduzem desigualdades e a necessidade de resistência e solidariedade na luta antirracista.
Já Ana Beatriz Querino Souza, enfermeira obstetra do Comitê Municipal de Prevenção Mortalidade Materna, Infantil e Fetal da PJF, apresentou dados sobre os desafios enfrentados pelas mulheres negras no acesso à saúde, ressaltando que as desigualdades raciais afetam diretamente a mortalidade materna e a qualidade do atendimento médico. Ela abordou questões estruturais do racismo e seus impactos na saúde da população negra no Brasil, destacando como a história de 350 anos de escravidão deixou marcas profundas, que se perpetuam em desigualdades estruturais até hoje. Ana enfatizou a necessidade de intervenções desde a infância, valorizando a identidade negra e combatendo estereótipos. Também trouxe dados alarmantes sobre mortalidade materna, violência obstétrica e desigualdades no acesso à saúde, mostrando como mulheres negras são as mais vulneráveis. A palestrante ressaltou a importância de enfrentar essas desigualdades não apenas na saúde, mas também na educação e na política, argumentando que o racismo estrutural continua a impactar todas essas áreas. Concluiu que é urgente transformar o sistema para garantir acesso equitativo e respeito à dignidade da população negra.
Fernando Santana, professor do Departamento de Psicologia do Instituto de Ciências Humanas (ICH) da UFJF, abordou como o racismo é um elemento central no adoecimento psíquico, destacando sua presença nas relações sociais e instituições. Deste modo, o professor destacou os impactos do racismo na saúde mental da população negra, apontando que o preconceito racial gera sofrimento psicológico que pode se manifestar em problemas como ansiedade, depressão e baixa autoestima. Ele ressaltou que a violência simbólica do racismo tem reflexos profundos na subjetividade das pessoas negras e os afetos, como medo e humilhação, moldando experiências individuais e coletivas de sofrimento. Apesar da importância do tema, ele é frequentemente invisibilizado em espaços de cuidado e na academia, o que perpetua desigualdades. Fernando apontou a necessidade de escuta ativa, abordagem crítica e interdisciplinaridade para enfrentar o racismo estrutural, defendendo práticas que reconheçam as dimensões raciais na saúde mental e valorizem a narrativa e a experiência das pessoas racializadas.
Ao longo do debate, os participantes destacaram a importância do Dia da Consciência Negra, comemorado em 20 de novembro, como um momento para refletir sobre as lutas históricas e contemporâneas do movimento negro no Brasil. Também foram discutidas propostas para a promoção da equidade racial no ambiente universitário e no sistema de saúde, com ênfase na implementação de políticas públicas e ações afirmativas que contribuam para a redução das desigualdades.
O evento foi encerrado com falas que reforçaram a necessidade de um compromisso coletivo para combater o racismo estrutural e promover um ambiente mais inclusivo e justo. Segundo as organizadoras, atividades como esta são essenciais para fomentar o diálogo e a conscientização sobre a importância da equidade racial em todos os espaços.
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