Aconteceu nesta terça-feira, 20, na sede da APES, uma reunião entre o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), o SINTUFEJUF e a APES para a prestação de contas sobre o Projeto de Plantio Solidário. Na ocasião, os e as presentes conversaram sobre a atual conjuntura política e reafirmaram a parceria entre as entidades sindicais e o movimento, para ampliar a luta pela reforma agrária, pela segurança alimentar e por avanços nas pautas dos trabalhadores e trabalhadoras no novo governo federal.
Pelo SINTUFEJUF participaram as coordenadoras Elaine Bem e Luana Lombardi. Pela APES, estiveram presentes o presidente Leonardo Andrada e a diretora Raquel Portes. Pelo MST estiveram presentes Lucimara Reis e os membros da Direção Estadual do movimento, Luana Oliveira, Michelle Capuchinho e Nei Zavaski.
O Plantio Solidário consiste em uma ação de produção de alimentos por meio de mutirões voluntários desempenhados pelas famílias vinculadas ao projeto, e posterior doação da produção. O objeto mais imediato foi o de reduzir a situação de insegurança alimentar, que se agravou no contexto da pandemia de Covid-19, tanto entre a população rural quanto urbana. Para além dessa função, o projeto é também estratégico: promove formação política e organização popular, ao mesmo tempo em que põe em funcionamento e em debate um modelo de sociedade alternativa ao capitalista.
De acordo com a prestação de contas apresentada por Luana Oliveira, o Projeto Plantio Solidário atendeu, nos 10 meses de sua realização, mais de 50 famílias, distribuídas em 6 bairros de Juiz de Fora e uma escola e doou uma tonelada de alimentos. O projeto movimentou um total de 19 mil reais, sendo 10 mil provenientes de contribuições fixas de entidades como APES e Sinpro e vereadoras do município e fornecimento de transporte e motorista pelo SINTUFEJUF; os outros 9 mil foram arrecadados por meio de contribuições voluntárias e outras ações do MST. Os recursos foram utilizados para custear a infraestrutura necessária ao projeto, como compra de ferramentas, aluguel de máquinas, compra de insumos, etc.; para produção de material pedagógico; e para transporte e alimentação dos voluntários.
Balanço
Para Lucimara Reis, o projeto foi fundamental neste contexto das eleições, ao alcançar territórios e famílias em um momento de necessidade de reorganização popular e construção de uma frente ampla para derrotar Bolsonaro. A continuidade do projeto em 2023 poderá, para ela, fortalecer esta articulação, com o objetivo de avançar na luta pela garantia de direitos.
Michelle Capuchinho reforçou o alcance do projeto junto aos setores urbanos, levando para a cidade o debate sobre a reforma agrária, uma meta nacional do MST. Para Michelle, a difusão da luta e do conhecimento é fundamental para a construção de uma força social. Neste sentido, para além dos mutirões, a relação entre movimento e universidade é vista por ela como uma grande potência. “Nós somos muito procurados aqui na universidade, de diferentes faculdades. Nós realizamos as jornadas universitárias, que é fruto do relacionamento com a instituição, e é uma forma de incidirmos no processo de formação dos futuros profissionais. Além de tudo, nós organizamos e recebemos trabalhos de conclusão de curso, de mestrado e doutorado, então nós nos sentimos acolhidos no espaço da universidade, e existe uma boa perspectiva de construção nesse espaço”, analisa Michelle.
Cultura
Nei Zavaski colocou em pauta a importância do alimento como estratégico na construção identitária do povo e da sociedade. Como avalia Zavaski, “no Brasil, atualmente, morrem mais pessoas de doenças causadas por alimentos ultraprocessados do que por assassinato. Portanto, o modelo de desenvolvimento que o capital propõe para a sociedade alimenta as pessoas com morte. Quando falamos da cultura de um povo, pensamos primeiramente na comida; então desmontar a cultura alimentar de um povo, faz parte de desmontar a existência dele”. Por isso o Plantio Solidário é fundamental nesta construção de um novo modelo de país, cuja referência é oposta a do agronegócio: é a agricultura familiar, fruto de saberes de povos e comunidades tradicionais. E complementa: “o capital não produz alimento; produz mercadoria. E não combatemos a fome com veneno”.
SINTUFEJUF
Luana Lombardi entende o apoio do Sintufejuf ao projeto como importante estratégia de formação política na própria categoria de servidores técnico-administrativos em educação. Por isso, a entidade pretende continuar seu apoio e ampliar a participação e envolvimento político na ação e nas pautas relativas à reforma agrária e à segurança alimentar. Luana destaca, em sua experiência na educação, o impacto da presença do MST nas regiões urbanas de Juiz de Fora. “Nós vemos muito claramente os reflexos do MST dentro das comunidades urbanas, a curiosidade, o desejo de retorno e o processo de aprendizagem é só o início para uma mudança posterior dentro dessas comunidades, mudanças em termos de conhecimento e atitudes em relação à realidade.”
Elaine Bem destacou o trabalho do movimento com as crianças e elogiou a iniciativa realizada na escola. Também ressaltou a necessidade de um registro das atividades e ações de comunicação, no intuito de dar visibilidade à experiência, multiplicar ações e também como forma pedagógica. Neste sentido, Michelle Capuchinho, do MST, informou que estão sendo finalizados um vídeo institucional e um documentário sobre o projeto, e que foram publicadas matérias qualificadas nos jornais Brasil de Fato e Tribuna de Minas.
APES
Raquel Portes, pela APES, reforçou a admiração ao movimento e reafirmou a continuidade da parceria da entidade com a luta pela reforma agrária, que já vem sendo realizada por gestões anteriores, desde a implementação do Assentamento Dênis Gonçalves, no município de Goianá. Para além do aporte financeiro, Raquel Portes reforçou a intenção da APES em participar mais ativamente nos mutirões e outras ações práticas, entendendo que “a construção de relações se estabelecem no momento do fazer”.
Encerrando a reunião, o presidente da APES, Leonardo Andrada, reafirmou a intenção de ampliar o envolvimento político da categoria docente no debate e, especialmente, nas ações do movimento, como forma de formação política e de aliança. “Atividades como a dos mutirões foram constitutivos no desenvolvimento e consolidação da revolução cubana, por exemplo, (…) porque isso faz parte do processo de formação política real, e é algo que vocês, do MST, têm introjetado. Eu falo do estreitamento do laço político, pois acho que temos condições de aproveitar esses espaços, pelo fato de que o MST é o movimento social central da história desse país contemporâneo: ele foi capaz de pegar um tema que é o nó górdio da história do Brasil, que é a propriedade fundiária, e agregar gente de verdade, pessoas que organicamente constroem a luta e fazem a engrenagem andar. Nós estamos com espaço aberto para qualquer necessidade que o movimento tenha de lugar para fazer contatos, desenvolver conversas. Gostaria de tentar ao longo do próximo ano outras formas de atuação conjunta.”
Próximas atividades
Michelle Capuchinho fez um convite às entidades para a construção da Jornada Universitária em Defesa da Reforma Agrária (JURA), que será realizada em abril de 2023. E no dia 13 de janeiro, haverá a inauguração oficial do Armazém do Campo, loja e espaço cultural para venda de produtos da reforma agrária. O armazém já está em funcionamento na Avenida Francisco Bernardino, n⁰ 30, centro de Juiz de Fora.
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