Decisão ocorreu em assembleia com mais de 350 pessoas
A greve das trabalhadoras e trabalhadores técnico-administrativos em educação da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) chegou ao fim. Em uma assembleia geral realizada na tarde de ontem, 9 de julho, com a participação de mais de 350 pessoas tanto online quanto presencialmente, a categoria decidiu assinar o termo de acordo local, encerrando a greve e retornando às atividades nesta quinta-feira, 11, data em que a greve completaria quatro meses.
Após a assembleia, o Comando Local de Greve da UFJF (CLG) dirigiu-se à reitoria, onde o documento foi oficialmente assinado. Na última sexta-feira, 5 de julho, a categoria havia finalizado as sugestões de alteração no termo e enviado à administração superior, que acatou parcialmente as modificações. O texto aborda desde o compromisso com as pautas locais dos técnico-administrativos em educação (TAEs) até a recomposição das atividades represadas durante a greve.
De acordo com o coordenador geral do SINTUFEJUF, Flávio Sereno, o documento assinado, embora não contemple todas as reivindicações, reflete o resultado das negociações, com conquistas, pontos a serem ainda negociados e outros negados. “Nós entendemos que com essas correções e ajustes, não podemos considerar que nossa pauta local foi completamente atendida, mas o termo reflete até onde a negociação chegou. Ele contém conquistas e espaços para negociação de pontos pendentes. O CLG entende que deve apoiar a assinatura deste termo e encerrar a greve de 2024. Há vários desdobramentos que precisam ser acompanhados na universidade. A greve foi bastante mobilizada, com assembleias contando com grande participação. No plano nacional, entendemos que conquistamos boa parte do que propusemos; a recomposição salarial ficou aquém do que negociamos, mas além do que o governo propôs em dezembro”, comentou.
Durante a assinatura do termo, a reitora Girlene Alves reconheceu a luta das entidades e a importância de finalizar a greve, reafirmando os compromissos. Segundo ela, os pontos que ainda não têm clareza serão discutidos em um espaço de diálogo fraterno, reafirmando o papel das universidades públicas na melhoria das condições do povo brasileiro.
Apesar da orientação da Federação de Sindicatos de Trabalhadores Técnico-administrativos em Instituições de Ensino Superior Públicas do Brasil (Fasubra) para o término da greve nacional em 2 de julho, as bases locais da UFJF e do IF Sudeste MG mantiveram-se em negociação até a assinatura dos acordos locais, que ocorreu esta semana. No IF Sudeste MG (Juiz de Fora, reitoria e Santos Dumont), a categoria retomou as atividades ontem, 9 de julho.
Em relação às negociações nacionais, em assembleia realizada no dia 27 de junho, os TAEs haviam decidido não assinar a minuta do termo de acordo de greve proposta pelo governo federal, uma vez que o documento havia sido disponibilizado durante a própria assembleia. A principal reivindicação dos trabalhadores, que incluíam a recomposição salarial e a reestruturação de carreira, ainda não havia sido plenamente atendida. Conforme Flávio Sereno, os trabalhadores optaram por solicitar ao Comando Nacional da FASUBRA que não assinasse o acordo imediatamente e pedissem um prazo maior para análise do documento.
Entretanto, mesmo sem consenso entre todas as entidades da FASUBRA, o termo foi assinado e a saída unificada da greve foi orientada para o dia 2 de julho. Porém, tanto os TAEs da UFJF quanto do IF Sudeste MG decidiram manter a greve até que acordos locais fossem firmados. Flávio Sereno destacou a importância do direito de greve como instrumento de conquista, apesar dos erros e atropelos na semana final. Em carta aberta publicada pelo SINTUFEJUF, o coordenador geral afirmou que, mesmo com a recomposição salarial insuficiente, a greve trouxe avanços significativos na carreira dos TAEs. Ele reafirmou o poder da greve como instrumento de conquista e avaliou positivamente os resultados obtidos, mesmo que aquém das expectativas. Sereno ressaltou que, apesar de não terem alcançado a recomposição salarial desejada, a greve conseguiu melhorar a estrutura de carreira e forçar o governo a oferecer um reajuste de 9% em 2025 e 5% em 2026, superando a proposta inicial de 4,5% + 4,5% nos próximos dois anos.
Para Flávio, a greve foi essencial para conquistar avanços que não seriam possíveis de outra forma. “Estamos disputando orçamento com forças muito poderosas presentes na estrutura do Estado Brasileiro. O resultado não é justo, mas é um resultado conquistado”, afirmou ele, destacando a importância de continuar lutando por melhores condições.
Segundo a técnico-administrativa Ana Bernardete Rocha, representante do Comando Local de Greve, o movimento foi muito forte, com grande mobilização e participação da categoria. Para ela, a força do movimento fez com que o governo buscasse diálogo. “O resultado não foi o que queríamos, mas só chegamos a ele devido à força do movimento. Lamentamos muito a insensibilidade do governo ao deixar nossos colegas aposentados e pensionistas com 0% em 2024, já que a grande maioria não recebe mais os auxílios”, afirmou. Ana Bernardete ressaltou a natureza dinâmica da greve: “A greve é um movimento dinâmico, é uma aprendizagem contínua, por isso, precisamos nos adaptarmos às mudanças, ao contexto do momento. Esse contexto muitas vezes determina as atitudes/deliberações da categoria. O objetivo do movimento é sempre buscar a valorização e reconhecimento do nosso trabalho, da nossa carreira e também do nosso salário. O encerramento da greve não significa que a luta acabou, muito pelo contrário, teremos muita luta pela frente, para que seja cumprido e implementado tudo o que foi acordado com o governo”, avalia.
Maria Angela Costa, representante do Comando Local de Greve do SINTUFEJUF, foi ainda mais incisiva em sua crítica, destacando que o acordo desrespeitou os aposentados e pensionistas. “Para mim, a Fasubra rifou os aposentados, algo que nunca havia acontecido na história da Federação. Eles não foram contemplados em 2024, uma vez que não recebem benefícios como auxílio alimentação, a grande maioria não possui crianças em idade escolar e nem plano de saúde. Na reestruturação de carreira, tivemos alguns avanços, mas o maior problema foi ter iniciado as negociações com o governo com 0% em 2024 e terminado com 0% em 2024”, afirmou ela.
Ainda segundo Maria Angela, esta foi a primeira vez que o movimento de greve da Fasubra deixou este segmento da categoria de fora das conquistas, o que gerou um grande descontentamento. “Toda vez, o governo tenta fazer essa proposta, mas a gente sempre recusou. Existe uma pressão parlamentar de reduzir os custos com aposentados. Nós nunca aceitamos, o CNG da Fasubra nunca aceitou e nunca defendeu isso, e infelizmente, desta vez a Fasubra rasgou a nossa história”, continuou.
Ela enfatizou que, embora houvesse alguns ganhos na carreira e no step, esses avanços não resolverão todos os problemas. “A Fasubra assinou o acordo de forma intempestiva, não dando oportunidade da categoria ler e discutir. Passaram o trator e deram a ré, não deu tempo de avaliar. Foi muito triste o fim da greve. Foi uma manobra e desrespeito para acabar com a greve, rifou as classes A, B e C, os aposentados e pensionistas, quando se recusou a sentar na mesa e negociar, teve pressa de acabar com a greve”, desabafou.
Ela concluiu expressando uma profunda decepção com a condução da greve e a direção da Fasubra. “Eu, enquanto militante e comando local de greve, nunca saí tão decepcionada com a direção da greve como foi, principalmente no final. Podem dizer que a maioria da categoria aprovou, mas os fatos não correspondem às ideias. A maioria que aprovou, não sabia o que estava aprovando”, pondera.
Na avaliação do técnico-administrativo e representante da categoria de Governador Valadares no SINTUFEJUF, Vinicius Mendes Maia, a greve, de modo geral, foi positiva. “Depois de passado um momento em que nossas lutas eram mais defensivas, contra a retirada de direitos, conseguimos travar uma batalha mais ofensiva, pela conquista e ampliação de direitos, portanto, com a conjuntura política e o governo atual, temos melhores condições de luta. Por mais que o resultado final tenha ficado aquém daquilo que gostaríamos, principalmente em relação ao percentual de recomposição salarial, por ter sido bem menor que o reivindicado, é inegável que conseguimos ganhos reais para nossa categoria, com a reestruturação da nossa carreira”, opinou. Deste modo, Vinícius reafirma o papel fundamental da greve e, consequentemente, dos sindicatos, como instrumentos imprescindíveis da classe trabalhadora na sua luta por melhores condições de trabalho e de vida. “Vale destacar também que alguns elementos desta greve de 2024 ainda precisam ser refletidos pela categoria, para podermos absorver os aprendizados e termos melhores condições de enfrentar os desafios que ainda permanecem”, concluiu.
Segundo a representante do Comando Local de Greve do IF Sudeste MG em Juiz de Fora, Daniele Fabre, apesar de ser unânime que o acordo firmado com o governo ficou aquém do esperado pela categoria, a greve trouxe ganhos importantes, principalmente no que se refere à previsão do Reconhecimento de Saberes e Competência (RSC) para os TAES. Além disso, Daniele acredita que a união do movimento fortaleceu a categoria. “Estamos certos de que essa união permanecerá”.
Maria Angela Costa falou sobre a negociação com a reitoria da UFJF, incluindo o pagamento dos dias de recesso e o dimensionamento do trabalho. Ela reforçou que a reposição do trabalho represado deve ser qualitativa e não de horas não trabalhadas.
Cleide Marcia Spindola, representante do Comando Local de Greve do Hospital Universitário, destacou o aprendizado e a importância da coletividade na luta por direitos, ressaltando a atuação imparcial e dedicada do sindicato. “Saio com consciência expandida de que é necessária a coletividade para que a gente consiga conquistas. As experiências de ter ido a Brasília, de ter participado como delegada, ter acompanhado as passeatas, ter visto tanta, tanta gente, no coletivo, ajudando, bem como a importância dos idosos na nossa causa, diante de tudo que eles já conquistaram e fizeram pela gente. E até agora eles continuam na luta, continuam no posicionamento de militância. Para mim foi de um crescimento fora do comum”, contou.
Ana Bernardete também destacou ainda a importância da greve para negociar pautas internas. “A adesão da categoria foi muito boa. Tivemos adesão de setores que historicamente nunca pararam, e que foram muito importantes para as negociações internas. O grande número de demandas e de reuniões com setores demandados comprovam essa adesão da categoria. Esse grande número de demandas mostrou também como o trabalho dos TAEs é fundamental para o funcionamento da UFJF.”
Bernardete revelou que a paralisação envolveu diversos setores, inclusive aqueles que tradicionalmente não aderem à greve, mostrando a gravidade da situação e a necessidade de melhorias. Assim, ela contou que ao longo do movimento, ocorreram reuniões e discussões com a reitoria da UFJF para tratar de questões internas, além das negociações com o governo federal. A mobilização resultou em avanços, mesmo que parciais, e reforçou a importância da união e da luta contínua da categoria por melhores condições de trabalho, salários dignos e reconhecimento profissional. Para ela, a greve dos TAEs da UFJF encerrou com a expectativa de que as negociações continuem e que os acordos firmados sejam cumpridos, garantindo os direitos dos servidores e promovendo melhorias no ambiente de trabalho e na qualidade do serviço prestado à comunidade acadêmica.
Em relação à greve no Campus Governador Valadares da UFJF, Vinicius Maia também considera ter sido um movimento muito positivo. “Houve uma grande adesão da categoria, paralisando os trabalhos, totalmente ou parcialmente, em todos os setores. Também tivemos uma ótima participação nas reuniões do comando de greve local, não só pela presença de grande quantidade de servidores, mas também, e principalmente, pelo nível de participação”, explicou. Segundo ele, as principais demandas locais em Governador Valadares estão relacionadas à infraestrutura nos espaços de trabalho, tendo sido possível apresentar essas demandas à Direção Geral do Campus e à Reitoria durante a greve. O TAE explicou que algumas já foram acatadas, como o aditivo no contrato de locação da unidade centro para disponibilização de um espaço adequado para que os servidores possam se alimentar.
Termo de Acordo Para Reposição das Atividades Represadas por Participação em Greve (UFJF/2024)
TERMO DE ACORDO 2024 (Governo)
Notícias mais lidas