Governo Bolsonaro encaminha Future-se ao congresso em meio à pandemia

28/05/2020

De forma antidemocrática, e apostando na impossibilidade de mobilização nas ruas devido à necessidade de distanciamento social e o foco no combate à pandemia provocada pelo novo coronavírus (Sars-CoV-2), o governo federal encaminhou o projeto de lei que cria o Future-se para o congresso nacional. O ato foi informado pelo Diário Oficial da União na última quarta-feira, 27 de maio. O programa, apresentado pelo Ministro da Educação Abraham Weintraub no ano passado, põe em risco a autonomia universitária, entregando a administração das instituições educacionais às organizações sociais. Além disso, retira do Estado a responsabilidade com o financiamento público da educação superior, descaracterizando assim a essência da educação brasileira.

Desde sua divulgação, o projeto foi amplamente debatido dentro das instituições federais de ensino em assembleias tanto de técnico-administrativos, quanto de estudantes e professores, tendo sido pauta de greves e manifestações em 2019 e totalmente rejeitado pela maioria dos conselhos universitários devido ao seu aspecto meritocrático e mercadológico. A rejeição ao Future-se faz parte do eixo do Estado de Greve aprovado pelos técnico-administrativos da UFJF no início deste ano, antes do distanciamento social.

De acordo com o coordenador geral do SINTIFEJUF Flávio Sereno, o governo encaminhar o projeto agora faz parte da estratégia exposta no vídeo da reunião ministerial ocorrida em 22 de abril e divulgada recentemente. “É uma tentativa de aprovar projetos que não conseguiram passar anteriormente, num momento em que todos os esforços estão concentrados em combater a Covid-19. É um absurdo, e nós esperamos que esse projeto não trâmite e não avance no parlamento brasileiro”, diz Flávio.

A presidente do DCE, Ana Lídia Resende afirma que o encaminhamento do projeto ao congresso em meio a uma crise sanitária histórica, no momento em que o país é o epicentro da pandemia, foi mais um ato de irresponsabilidade de Bolsonaro e Weintraub. “Há um projeto em vigência de sucateamento da educação e a gente tem visto isso desde o início do ano passado, já nos primeiros meses do governo Bolsonaro. Ano passado nós tínhamos um fator de resistência muito grande que era poder estar nas ruas, e os grandes atos da educação, puxados pelo movimento estudantil e os sindicatos da área certamente ajudaram muito no enfraquecimento de alguns projetos que já eram pra ter sido implementados pelo governo, como o próprio Future-se ou o corte de verbas das universidades. Isso provou a importância da organização. No ano passado, o DCE chegou a fazer uma assembleia e tiramos o posicionamento dos discentes contrário ao Future-se”, lamenta. Para ela, o momento agora exige que sejam repensadas novas estratégias de resistência, uma vez que não é possível ocupar as ruas. “Nos próximos dias, nós do DCE, provavelmente estaremos fazendo reuniões e debates internos para tratar mais essa questão, vendo e utilizando os  espaços de mobilização certamente acompanhado as entidades estudantis nacionais e estaduais (UNE e UEE) para pensarmos nossas ações de forma unificada. Não dá pra permitir mais esse retrocesso” afirma.

Para o dirigente da APES, Augusto Cerqueira, em matéria divulgada no site da entidade,  o governo está avançando com o projeto privatista e de destruição da educação, ciência e tecnologia,  para ampliar a apropriação do fundo público e destruir o sistema de educação pública federal. Segundo ele, é preciso denunciar e se mobilizar contra o Future-se.

A atual presidente do Grêmio Estudantil Técnico Secundarista (GETS) do IF Sudeste MG, Júlia Hágale acredita que o governo está aproveitando o momento delicado do país para tentar sucatear o ensino público ainda mais. “Nós enquanto grêmio do Instituto Federal campus Juiz de fora repudiamos o Future-se ( ou melhor, Fature-$e ) desde que tal proposta foi lançada, nós estivemos em luta para derrubá-la através de diversos manifestos como greves e tsunamis da educação visando sempre conscientizar os estudantes” explica.

Notícias mais lidas