O dia da trabalhadora e do trabalhador – celebrado no dia 1° de maio – é um dia de luta e de valorização da memória de resistência da classe trabalhadora. Por mais que existam inúmeras tentativas, tanto de empresas quanto de governantes, de deturpar o caráter de luta da data, reduzindo-a ao “dia do trabalho”, e não da classe trabalhadora, o movimento sindical afirma, ao longo de toda a sua história, que o dia 1° de maio é sim um dia luta.
Para o coordenador geral do Sintufejuf, Flávio Sereno, a data é marcante para toda organização da classe trabalhadora. “Os movimentos sociais e sindicatos usam o momento para relembrar a importância da luta coletiva e das organizações para as conquistas, e no caso dos dias atuais, para a manutenção de direitos já conquistados ao longo dos anos, e porque não dizer dos séculos”, afirma.
Criado com o objetivo de defender os interesses dos trabalhadores, o movimento sindical vem sofrendo com perseguições, que se agravam em diversos momentos da história, exatamente para que não exista uma resistência organizada da classe trabalhadora, seja para protagonizar as lutas por melhores condições de trabalho, para barrar ataques como o da reforma da previdência ou mesmo para que não se relembre os mais de 200 anos de história que estão por trás do dia 1° de maio. Durante a ditadura Vargas e a ditadura civil militar no Brasil, por exemplo, os sindicatos e movimentos sociais foram colocados na ilegalidade e foram duramente reprimidos pelo governo. Hoje, apesar de não vivermos em uma ditadura declarada, vemos o governo Bolsonaro investir no boicote aos sindicatos, através da medida provisória (MP) 873/19, por exemplo, que busca dificultar o pagamento da contribuição sindical, que é voluntária.
Quando o governo ataca os sindicatos, a intenção é acabar com a capacidade de organização e mobilização da classe trabalhadora, deixando-a desamparada do ponto de vista da sua representatividade. Por isso, Flávio Sereno destaca o “Dia do Trabalhador” como o momento de relembrar a história do 1º de maio, desde sua origem, quando se discutia a jornada de trabalho. “De lá, até os dias atuais, muita coisa se passou, muita luta aconteceu e os trabalhadores tiveram avanços e retrocessos na discussão dos seus direitos dentro desse sistema econômico predominante até hoje no mundo, mas sempre decorrentes da luta”, aponta.
A origem da data está na greve geral de Chicago, que aconteceu em 1886. Na época as condições de trabalho eram péssimas e as pessoas chegavam a trabalhar até 20 horas por dia, sem descanso semanal. O trabalho infantil e a insalubridade das fábricas eram problemas generalizados, o que acarretava em um grande número de acidentes de trabalho e mortes precoces devido a exploração extrema a que as trabalhadoras e trabalhadores estavam submetidos. Por isso os sindicatos organizaram a classe trabalhadora na época em torno de uma grande greve geral, que pedia a redução da jornada de trabalho para, no máximo, 8 horas diárias. O lema do movimento, estampado em bandeiras e panfletos distribuídos por toda Chicago e posteriormente exportado para o mundo, era “8h de trabalho, 8h de repouso e 8h de educação”.
A repressão aos trabalhadores grevistas foi muito dura e alguns chegaram a ser mortos, pela polícia ou pelos seguranças das fábricas, o que resultou na realização de uma grande passeata em protesto à repressão. Na ocasião a greve já havia atingido grandes proporções e em todo o país a classe trabalhadora estava se organizando em torno da luta pelas 8 horas de trabalho. Sendo assim, a polícia foi enviada à grande manifestação de trabalhadoras/es para dispersar o movimento e após a sua chegada uma bomba explodiu perto dos carros dos policiais e essa foi a justificativa da polícia para abrir fogo contra as trabalhadoras e trabalhadores que ocupavam as ruas, provocando a morte de várias pessoas. Além disso, alguns dos principais sindicalistas responsáveis pela mobilização da greve, que depois ficaram conhecidos como “os mártires de Chicago”, foram presos na ocasião e posteriormente condenados à forca. Somente depois de 10 anos o governo norte americano reconheceu que a polícia havia armado a bomba que explodiu na manifestação, inocentando os sindicalistas mortos.
Até hoje os Estados Unidos se recusa a reconhecer o dia 1° de maio como o dia do trabalhador, mas isso não impediu que o exemplo de Chicago se espalhasse pelo mundo, impulsionando uma série de mobilizações em defesa da jornada de trabalho de 8h. Além disso, este é o marco que levou a Segunda Internacional, organização de esquerda que reunia trabalhadoras e trabalhadores de todo o mundo, a eleger o dia 1° de maio como o dia do trabalhador.
No Brasil o dia 1° de maio só foi oficialmente decretado como o dia do trabalhador em 1906, quando a Federação Operária do Rio de Janeiro mobiliza a realização do Congresso Operário, que aprova a comemoração anual do dia do trabalhador nessa data. Antes disso, porém, já aconteciam mobilizações em torno da questão. No ano seguinte ao massacre de Chicago, trabalhadoras e trabalhadores do Rio Grande do Sul, por exemplo, realizaram a apresentação da peça “O 1° de maio”. A cidade portuária de Santos, localizada no estado de São Paulo, também aparece com frequência nessa história. É de lá que partem as primeiras mobilizações brasileiras em torno da jornada de trabalho de 8h diárias e onde se realiza, pela primeira vez, em 1895, a primeira comemoração do dia 1° de maio.
Nessa época a escravidão havia acabado de ser abolida no Brasil, após uma pressão internacional para que o país aderisse ao processo de industrialização que já havia começado na Europa e nos Estados Unidos. Ainda assim a sociedade era extremamente escravocrata e as condições de trabalho eram muito ruins. É nesse momento que, sob a influência de imigrantes europeus que vieram para o Brasil fugindo da Primeira Guerra Mundial ou em busca de melhores condições de vida e trabalho, começam a surgir os primeiros sindicatos brasileiros, fundamentais para a garantia de direitos trabalhistas dos quais usufruímos até hoje. Se, em 1932, o então presidente do Brasil, Getúlio Vargas, regulamenta a jornada de trabalho de 8 horas diárias e outras leis trabalhistas, foi graças a mobilização que começou em 1800 e se estendeu por mais de um século.
De lá pra cá muita coisa mudou, pois conquistamos a jornada de trabalho de 8 ou 6 horas diárias, o seguro desemprego, 13° salário, indenização em casos de acidente de trabalho, etc. Todos direitos conquistados através da organização da classe trabalhadora em sindicatos, manifestações públicas, greves e outras formas de mobilização. Mas, por outro lado, há ainda uma grande parcela da população que não acessa os direitos trabalhistas que já conquistamos, além de um movimento constante, e cada vez mais intenso, das elites econômicas, para que a classe trabalhadora não tenha mais os direitos conquistados durante mais de 200 anos de luta.
As pessoas negras ainda hoje têm salários menores e condições de trabalho piores. As empregadas domésticas, por exemplo, só conquistaram o direito a férias e 13° salário através da Lei das Domésticas, de 2015, e são, em sua maioria, mulheres negras, periféricas e de baixa escolaridade. De acordo com a pesquisa Retrato das desigualdades de gênero e raça – 20 anos, do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada – IPEA, o salário médio de mulheres negras, de 1995 a 2015, equivale a menos de metade do salário médio de homens brancos, no mesmo período de tempo. Enquanto os homens brancos tinham um salário médio de R$ 2.509,70, as mulheres brancas recebiam em média R$ 1.765; os homens negros recebiam R$ 1.434,10 e as mulheres negras recebiam R$ 1.027,50. Além disso, as situações de trabalho análogo à escravidão têm aumentado em níveis alarmantes. Entre 2017 e 2018 aumentou 93%, de acordo com o Ministério do Trabalho. O mercado informal também tem crescido vertiginosamente. Dados atualizados do IBGE mostram que aplicativos de celular, como Uber e Ifood, tem sido os empregadores de quase 4 milhões de brasileiros. E muitas dessas pessoas trabalham em outros lugares também, tendo jornadas de trabalho que ultrapassam 12h diárias.
A coordenadora geral do Sintufejuf, Maria Angela Costa, afirma que todas as lutas que já travamos até hoje, ainda que não tenhamos as melhores condições para toda a população, o que é evidenciado principalmente por conta da desigualdade social, estão sendo atacadas e precisam ser defendidas. “O que este governo quer é precarizar e terceirizar, sob o falso argumento de que está gerando emprego, quando na verdade ele quer escravizar as pessoas e reduzir os direitos”, afirma Maria Angela. Ela também afirma que a resposta a esses ataques deve acontecer nas ruas, com todas e todos na luta pela manutenção dos direitos já conquistados em séculos de luta sindical. “A gente precisa que neste 1° de maio vá todo mundo para as ruas lutar para manter as conquistas que já tivemos”, afirma Maria Angela. Segundo Flávio Sereno, o principal ataque hoje acontece com a Reforma da Previdência. “A proposta de emenda constitucional que já tinha sido colocada no governo anterior e volta agora com muito mais força, vem com a tentativa de exterminar o conceito de seguridade social e criar um sistema de capitalização onde cada trabalhador assume individualmente a responsabilidade por economizar recursos para bancar a própria aposentadoria. Um sistema de cada um por si que só vai favorecer o sistema financeiro, como já demonstrado em vários países do mundo que já experimentaram esse modelo” avalia.
O Sintufejuf, junto à Apes, realizou hoje um ato em defesa do direito de aposentar – conquista histórica da classe trabalhadora que está sendo ameaçada pelo governo Bolsonaro – às 9h, no pórtico norte da UFJF, o ato foi aprovado na última assembleia da categoria. Além disso, o Sindicato convoca a categoria a realizar o recadastramento, clicando AQUI, para fortalecer a entidade e fazer parte da luta sindical, em defesa dos direitos da classe trabalhadora.
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