Coordenadora geral do SINTUFEJUF, Maria Angela Costa participa de 3º Encontro de Mulheres da América Latina e do Caribe

25/07/2023

Hoje, 25 de julho, é o Dia internacional da mulher negra latino-americana e caribenha. A data é um marco internacional das lutas, resistência e organização destas mulheres, reconhecido pela ONU e diversas outras instituições. As comemorações tiveram início em 1992, em Santo Domingo, na República Dominicana, onde aconteceu um encontro de mulheres negras latino-americanas e caribenhas. O objetivo era denunciar o racismo e o machismo enfrentados por mulheres negras no mundo e construir a unidade de suas lutas.

No Brasil, a data foi instituída em 2014 pela Lei 12.987, que estabeleceu o 25 de julho também como o Dia Nacional da Mulher Negra e de Tereza de Benguela, líder do Quilombo Quariterê no século 18, comunidade localizada na fronteira entre o Mato Grosso e a Bolívia. A homenageada esteve no comando do quilombo, que reunia cerca de 100 pessoas e se organizava politicamente por meio de um conselho, ao longo de duas décadas. 

Em comemoração à data, a coordenadora geral do SINTUFEJUF, Maria Angela Costa, participou dos dias 21 a 23 de julho, do 3º Encontro de Mulheres da América Latina e do Caribe, na Universidade de Brasília. O evento sediado pela primeira vez no Brasil reuniu mulheres de diversas idades, raças, trabalhadoras da cidade e do campo, estudantes, com deficiência, desempregadas, artistas, trabalhadoras autônomas, intelectuais, indígenas e quilombolas, representantes do país e da Colômbia, Equador, República Dominicana, Paraguai, Peru, Argentina, Uruguai, México, Venezuela e El Salvador. “Foi um encontro muito emocionante. Reuniu mais de mil mulheres de diversos países. Tivemos pelo menos 16 grupos de mulheres realizando todo tipo de conversa. Foram três dias intensos e produtivos”, conta Maria Angela, que participou do grupo de mulheres negras.

Segundo a coordenadora, a data é importante para dar visibilidade ao povo negro e seus enfrentamentos. Para ela, é o fortalecimento do feminismo negro. “Vivemos em uma sociedade que a todo momento tenta nos impor um lugar, querem que a gente ocupe os piores postos de trabalho, subalternos, menos valorizados e com as piores remunerações”, lamenta. Deste modo, a participação da população negra e dos movimentos sindicais, sociais e políticos em um evento como aconteceu em Brasília é fundamental para sensibilizar a sociedade para o apoio de bandeiras que afetam o mundo todo. “A gente consegue entender porque é preciso lutar cada vez mais, se mobilizar cada vez mais, porque o que acontece aqui, acontece em outros lugares. O que acontece desde a escravidao não é fato isolado, é projeto de vida e política de estado que existe no mundo. E é isso!“, explica. Portanto, para enfatizar a relevância do Encontro, a coordenadora cita ainda a filósofa Angela Davis “Quando a mulher negra se movimenta, toda a estrutura da sociedade se movimenta com ela”.

Para Maria Angela, a data que marca a luta das mulheres negras resgata a memória de Marielle Franco. Símbolo de resistência, a vereadora eleita em 2016 e brutalmente assassinada em 2018 junto com o motorista Anderson Gomes, teve uma trajetória política marcada pela defesa dos direitos das mulheres, da periferia e o combate ao racismo. Na última semana, a apuração do crime teve novos desdobramentos após o vazamento de delação premiada feita por um dos acusados, o ex-policial militar Élcio de Queiroz, mas ainda segue sem respostas sobre quem foi o mandante e qual o motivo.

Conforme Maria Angela, o assassinato de Marielle Franco representa o silenciamento das mulheres negras, principalmente quando elas buscam ocupar espaço na política. “Não aceitam que ocupamos esses espaços. Mas apesar de assassinada, Marielle vive sempre dentro de nós, ela nos inspira e nos dá força para continuar a luta”, finaliza.

Durante os três dias, foram debatidas a situação econômica, política e social, bem como as diferentes formas de luta e de organização que o movimento de mulheres desenvolve em cada país participante. Na ocasião, foi aprovada uma agenda de lutas que culminará na Jornada Latino-Americana e Caribenha contra o fascismo e o imperialismo na região, pela soberania e pelos direitos das mulheres.

Além das mesas de debates, foi realizada a leitura do Manifesto proposto pelo Comitê Preparatório Internacional que avaliou as bases fundamentais que norteiam as lutas das mulheres e dos povos em busca da verdadeira emancipação. Também ocorreu a exposição das propostas aprovadas nos 16 grupos temáticos. 

As participantes aprovaram moções de solidariedade às companheiras que resistem ao golpe de estado no Peru, ocorrido ano passado, às trabalhadoras da Enfermagem, que seguem na luta pela implementação do piso salarial no Brasil, assim como todos aqueles que enfrentam a grave crise política e social que vive o povo da Venezuela.

Confira a Plataforma do Brasil, com a Declaração Final do 3º Encontro de Mulheres da América Latina e do Caribe (link)

História dos encontros

O 1° Encontro aconteceu em 2015 na República Dominicana, quando diversos movimentos de mulheres da América Latina e do Caribe se uniram para organizar um espaço em que pudessem debater as condições de vida dessas mulheres. Muitas vezes elas enfrentam uma dupla ou tripla jornada de trabalho, são submetidas às atividades domésticas, assumem sozinhas o cuidado da casa, a educação dos filhos, cuidam dos familiares doentes e idosos. Realidade esta, fruto de séculos de colonização, dependência econômica e submissão ao imperialismo. O evento teve a participação de cerca de 500 mulheres, de 13 países, com o tema “Em defesa de nossos direitos”. Uma delegação de 29 brasileiras, de nove Estados, coordenada pelo Movimento de Mulheres Olga Benário, marcou presença.

O 2º Encontro aconteceu na Universidade Central de Quito, no Equador, em 2018. Na ocasião, estiveram presentes 400 participantes internacionais e 500 delegadas locais, que demonstraram a força revolucionária das mulheres. A delegação brasileira foi composta por 16 mulheres. O Encontro ainda contou com um ato político contra o avanço do fascismo na América Latina, em especial no Brasil, na Colômbia e na Venezuela. Esse ato também foi um apoio à manifestação no Brasil contra o avanço do fascismo e pela campanha internacional#EleNão. 

O 4° Encontro acontecerá na Argentina em 2026 e o 5º, em 2029 na Colômbia.

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