Encerrando o mês da Consciência Negra, na última segunda-feira (25), a Câmara Municipal de Juiz de Fora realizou a entrega da Medalha Nelson Silva 2024, em uma sessão solene que celebrou as conquistas da comunidade preta e parda. Entre os dez homenageados estavam Ana Paula Machado, coordenadora do Sindicato dos Trabalhadores Técnico-Administrativos em Educação das Instituições Federais de Ensino no Município de Juiz de Fora (SINTUFEJUF), e Vilma Lucia Pedro, técnica-administrativa em educação e coordenadora do CDARA da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF). Estiveram presentes diversos TAEs e professores da UFJF, incluindo membros do SINTUFEJUF e da reitoria.
A Medalha Nelson Silva, criada em 1999, reconhece pessoas e instituições que contribuem para a valorização, difusão e engrandecimento das manifestações artístico-culturais e sociais da raça negra. Este ano, a cerimônia marcou os 60 anos do Batuque Nelson Silva, grupo que mantém vivo o legado do compositor homenageado pela honraria.
A coordenadora do SINTUFEJUF, Ana Paula Machado é professora, intérprete de Libras e dedicou sua trajetória à inclusão e acessibilidade, abordando também questões étnico-raciais. Atualmente, ela desenvolve projetos voltados à acessibilidade cultural na Fundação Cultural Alfredo Ferreira Lage (Funalfa). Durante a cerimônia, Ana Paula falou em nome dos homenageados e destacou a importância da medalha. “Essa luta e esse movimento da pessoa preta agora também trazem a questão da arte, da cultura, e, sobretudo, da inclusão. É sobre garantir a participação de todas as pessoas, inclusive aquelas com deficiência, nos espaços de diálogo e transformação social. Essa medalha simboliza não só o reconhecimento, mas a força para seguirmos resistindo.”
Ela ainda enfatizou o papel da resistência histórica da população negra, a necessidade de aliados para fortalecer as pautas de acessibilidade e o compromisso com a luta antirracista.
Também entre os homenageados, a TAE Vilma Lucia Pedro possui uma trajetória marcada pelo enfrentamento ao racismo e à desigualdade, tanto em sua atuação administrativa quanto no combate à ocupação irregular de vagas destinadas a pessoas pretas, pardas e indígenas na UFJF. Para ela, a medalha representa um símbolo de luta e comprometimento. Ela afirma que a honraria é muito significativa, pois reflete a luta diária para ocupar espaços e construir uma sociedade mais justa.
Reconhecimento à luta e à cultura negra
Instituída pela Resolução nº 1.120, de 1999, a Medalha Nelson Silva é uma honraria concedida anualmente, destacando-se como símbolo do reconhecimento à luta e ao legado da cultura negra. A escolha dos agraciados é realizada por uma Comissão de Mérito composta por representantes de instituições de grande relevância, como o Batuque Afro-Brasileiro de Nelson Silva, a Secretaria Municipal de Educação, a Fundação Cultural Alfredo Ferreira Lage (Funalfa), a Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), a própria Câmara Municipal, o Conselho Municipal para a Promoção da Igualdade Racial e o Instituto Histórico e Geográfico de Juiz de Fora.
Durante o evento, a vereadora Laiz Perrut (PT), presidente da Comissão Especial pela Igualdade Racial, ressaltou a importância dessa homenagem, enfatizando que ela reflete as escolhas de diversas instituições da cidade. “A Medalha não só celebra o legado de Nelson Silva, mas também de todos aqueles que, muitas vezes invisibilizados, constroem a história e a cultura de Juiz de Fora diariamente”, afirmou a vereadora. A vereadora também destacou a relevância da criação da Secretaria Municipal da Igualdade Racial, recentemente anunciada, como um marco na promoção de políticas públicas inclusivas.
Celebração da resistência e da cultura negra
A cerimônia também contou com apresentações culturais do Batuque Nelson Silva, que interpretou cantos de lamento e celebração, relembrando a herança de resistência da comunidade negra. Durante a solenidade, Zélia, uma das integrantes do grupo, destacou a importância de renovar as gerações para que a história do batuque continue viva.
Nelson Silva, nascido em 22 de janeiro de 1928, em Juiz de Fora, foi um artista multifacetado, reconhecido como contador, tipógrafo e um dos maiores compositores da história local e nacional. Seu repertório abrangia desde sambas e batuques até valsas e hinos religiosos. Atento à realidade social dos negros no Brasil, suas composições retratavam os desafios enfrentados por sua raça, utilizando uma linguagem inspirada nos cantos e lamentos dos escravizados. Nelson faleceu em 10 de outubro de 1969, deixando como legado a luta por uma sociedade mais igualitária.
A entrega foi transmitida ao vivo pela JFTV Câmara e está disponível no YouTube.
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