Estimular a vacinação de toda a população contra a Covid-19 parece não ser mais uma prioridade da maioria do Conselho Superior da UFJF (Consu). Pelo menos é o que indica a decisão da reunião ocorrida na tarde desta quarta-feira, 25, que deliberou por 26 votos favoráveis, 12 contrários e 2 abstenções a suspensão da cobrança de passaporte de vacina para técnico-administrativos, docentes, estudantes, terceirizados e demais usuários e frequentadores das dependências físicas, administrativas e acadêmicas da Instituição. A decisão contraria o posicionamento das quatro entidades representativas da comunidade, acadêmica, SINTUFEJUF (TAEs), APES (docentes), DCE (estudantes da graduação) e APG (estudantes da Pós Graduação).
Para o coordenador geral do SINTUFEJUF, Flávio Sereno, a decisão é no mínimo, precipitada. “O passaporte é uma bandeira de defesa da vida, que não deveria ser baixada enquanto a pandemia ainda se faz presente”, afirma.
A exigência do passaporte havia sido uma deliberação também do Consu em 14 de fevereiro enquanto medida educativa e em defesa da ciência, como uma forma de proteção individual e coletiva. Entretanto, ignorando o crescimento no índice de testes positivos em Minas Gerais, a maioria do Conselho Superior voltou atrás na decisão, suspendendo a obrigatoriedade de comprovação da vacinação.
Flávio Sereno ressalta que a vacina é a principal defesa contra o vírus. “Foi a ampla vacinação com duas doses que provocou a queda de casos, internações e mortes. Porém a cobertura da chamada dose de reforço, ou terceira dose, está bem aquém das duas anteriores, o que traz preocupação. A exigência do passaporte tem caráter educativo visando estimular a imunização individual e coletiva. A nosso ver é um erro suspender esta exigência”, comenta. Para embasar a discussão, durante a reunião, o coordenador questionou qual seria a cobertura de terceira dose na comunidade acadêmica, entretanto este dado não estava disponível naquele momento.
Também coordenadora do SINTUFEJUF e representante dos TAEs de Governador Valadares no Consu, Isadora Camargo lamenta a decisão. Para ela, a exigência do passaporte deveria ser mantida. “É uma forma de preservar a saúde da comunidade acadêmica e civil, visto que envolve docentes, discentes e TAE´s. A queda da vacinação da população tem sido constante, ainda mais em relação as doses de reforço”, explica.
O presidente da Apes, Augusto Cerqueira concorda com Isadora e teme o surgimento de uma nova onda, caso as medidas de proteção e combate a Covid-19 sejam flexibilizadas. “A instituição adotou o passaporte em 14 de fevereiro e menos de três meses depois propõe a suspensão em um momento de início de nova onda. Me parece que há uma aceitação de que a pandemia acabou no país a partir das decisões do governo federal (revogação do Decreto 10.659, que criava o Comitê de enfrentamento à pandemia, e publicação de portaria que determina o fim da Emergência em Saúde Pública de Importância Nacional). A Apes, portanto, se mantém firme na defesa da vida, defendendo manutenção da cobrança do passaporte vacinal”, afirma.
A decisão preocupa também o representante da APG, Matheus Botelho, que tem acompanhado notícias de que o número de casos positivos voltou a aumentar. Para ele esta decisão poderá resultar em insegurança para os membros da comunidade acadêmica. Além disso, Matheus acredita que a medida é injusta e coloca em risco as pessoas com comorbidades. “Flexibilizando na véspera do prazo de 25% do semestre letivo da Graduação, abriria oportunidade pra estudantes de Graduação não vacinados se matricularem, o que representaria um risco, além de ser injusto mesmo com quem não queria se vacinar e somente o fez para participar das atividades acadêmicas (grupo do qual NÃO fazemos parte pois sempre fomos favoráveis à vacina! E nos vacinamos assim que possível)”, lamenta. Matheus aponta ainda que outras universidades estão tomando medidas mais restritivas, enquanto a UFJF, flexibiliza.
A representante do DCE, Maria Edna, acredita que deveria haver um debate amplo e participativo antes de qualquer decisão. Segundo ela, desde o início do debate da retomada das atividades, o DCE faz uma defesa ativa do uso do passaporte vacinal. “Hoje, podemos observar um preocupante crescimento de casos de Covid-19, tendo como exemplo o surto da doença na faculdade de Medicina da UFMG, que parou temporariamente suas atividades presenciais para contenção do vírus. Tendo conhecimento dessa situação que assola inúmeras cidades do país e a reconhecida ineficácia dos meios não farmacológicos de prevenção da transmissão das síndromes virais, nós DEVEMOS reforçar a necessidade da adoção e da manutenção das medidas de prevenção e higiene para que se evite a transmissão do vírus. Aliás, a quem interessa a não adoção do passaporte de vacina?”, questiona.
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