Na última quinta-feira (3), a Pró-Reitoria de Gestão de Pessoas (PROGEPE) da UFJF realizou duas reuniões abertas com a comunidade acadêmica para apresentar o Sistema de Dimensionamento de Pessoal (SISDIP). A gestão considerou os encontros como o início da implementação do dimensionamento na instituição. No entanto, os trabalhadores criticaram tanto o conteúdo quanto a forma como o processo vem sendo conduzido.
O dimensionamento da força de trabalho é o processo que visa identificar, com base nas competências e funções dos servidores, a quantidade ideal de pessoal necessária para atender às demandas institucionais. A proposta está prevista no acordo de greve local firmado com a reitoria em 2024, e por isso não é rejeitada pela categoria. O problema, segundo os trabalhadores, é a ausência de debate qualificado e o uso de um sistema que ignora a realidade da universidade.
Para os servidores da UFJF, é inaceitável que uma proposta de tamanha importância seja implementada sem reflexão crítica sobre sua origem. O SISDIP foi criado em 2022, durante o governo Bolsonaro, por meio de uma portaria do antigo Ministério da Economia, marcada pela lógica fiscalista do então ministro Paulo Guedes. Quando o conteúdo da normativa passou a ser conhecido, o sindicato procurou a PROGEPE para apresentar as preocupações da categoria.
Na época, nem mesmo a gestão da universidade estava ciente dos detalhes do documento. O próprio pró-reitor adjunto, afirmou, naquele momento, que ainda não havia lido a portaria. Esse desconhecimento por parte da administração reforça a urgência de um debate transparente e técnico sobre a proposta.
A portaria — ainda vigente — proíbe o investimento de recursos públicos no desenvolvimento do sistema, o que, para os trabalhadores, demonstra a precariedade da ferramenta e o descompromisso do governo anterior com o serviço público. Além disso, o sistema carrega uma lógica produtivista, baseada em controle e velocidade, e não na qualidade das entregas realizadas nas instituições públicas.
A discussão sobre o dimensionamento não é nova e foi incorporada ao acordo que encerrou a greve local da categoria. No entanto, o que foi apresentado na quinta-feira, segundo os trabalhadores, não se configura como um verdadeiro ciclo de debates.
Conforme o coordenador de aposentados do SINTUFEJUF Rogério Silva, é fundamental esclarecer que a categoria não é contrária ao dimensionamento da força de trabalho. “O debate sobre o tema foi incorporado ao acordo que encerramos com a reitoria. O que estamos dizendo é que ele precisa ser feito de forma séria, com participação real da comunidade e respeito às especificidades das universidades”, afirmou.
Segundo os presentes, a metodologia adotada até o momento ignora a escuta ativa das unidades e desrespeita o compromisso firmado com a base. Para os trabalhadores, o SISDIP adota uma lógica vertical, tecnocrática e autoritária, tratando o trabalho humano como mera estatística, sem considerar as complexidades das atividades realizadas no cotidiano universitário.
Rogério Silva, apontou inconsistências nas informações divulgadas, como a alegação de que todos os servidores haviam recebido treinamento, enquanto vários trabalhadores, segundo elem, afirmam o contrário. O coordenador também questionou o percentual de 5% do quadro de pessoal envolvido na aplicação inicial, avaliando que isso é insuficiente para representar a realidade das unidades.
Durante o debate, Rogério alertou que o envio do projeto ao Conselho Universitário (CONSU) sem o devido diálogo com o sindicato e com os trabalhadores contraria o que foi acordado durante a greve, e solicitou que o pró-reitor não encaminhasse a proposta ao Consu ainda.
Um dos pontos mais criticados do SISDIP é sua aproximação com práticas de controle típicas da iniciativa privada, como a cronometragem de tarefas e a “quantificação de esforços”. Conforme destacou o técnico-administrativo e diretor da Fasubra, Flávio Sereno, no portal oficial do sistema, está descrito que o esforço corresponde ao percentual de tempo que o(a) servidor(a) percebe dedicar a cada entrega. Para ele, isso confirma que o sistema mensura tempo e, portanto, simula uma forma de cronometragem, o que contraria o discurso da gestão.
Nesse sentido, Flávio também expressa preocupação com os possíveis impactos do sistema sobre a política de flexibilização da jornada. O receio é que o SISDIP passe a ser utilizado como argumento para negar a necessidade de novas contratações e, em vez disso, pressionar os servidores a voltarem a cumprir 40 horas semanais. Nesse cenário, direitos já conquistados estariam sob ameaça, desconsiderando-se a complexidade do trabalho técnico-administrativo e o contexto específico de cada unidade.
Diante do cenário, o SINTUFEJUF protocolou um ofício junto à secretaria do CONSU, ao professor Álvaro Quelhas, solicitando que a proposta de dimensionamento não seja submetida à votação no conselho ainda no mês de julho. Segundo o sindicato, a categoria reivindica o adiamento da discussão para setembro, de modo a permitir uma construção coletiva da proposta, com base em escuta ativa, transparência e participação efetiva.
“O que está em jogo é o futuro do serviço público na universidade. O dimensionamento deve servir para valorizar o trabalho, melhorar as condições nas unidades e fortalecer a UFJF — e não para impor controles e metas sem diálogo”, defende a coordenação do sindicato.
O sindicato reforçou que está à disposição para contribuir com a construção coletiva do dimensionamento, desde que com diálogo e respeito à autonomia universitária.